Não se preocupar com o que você veste é um privilégio!

Nós não somos feitos só de intelecto, nós somos corpo também. Junto e misturado e não como duas coisas separadas (mas isso é assunto pra outra hora!), meu ponto nesse post é que esse corpo é, no espaço público, um corpo necessariamente vestido e, por isso, na minha visão, faz sentido que a gente preste atenção a esse vestir pra que ele esteja alinhado às nossas crenças, aos nossos valores, à nossa personalidade, etc.

Prestar atenção ao vestir nada tem de futilidade, não tem a ver com seguir tendências, nem com entender, ou sequer gostar de moda, muito menos com gastar rios de dinheiro.

vestir privilégio

Pelo contrário, ao prestar atenção e tirar suas escolhas do automático, você pode se dar conta que o que faz sentido pra você, na sua vida, de acordo com o que você acredita, é só comprar roupa de segunda mão, por exemplo. Ainda que você gaste muito pouco com o vestir, esse vestir está alinhado com seus posicionamentos, entende? Isso é o que eu chamo de prestar atenção ao que se veste.

Dito isso, é claro que poder se preocupar com o vestir e fazer escolhas a esse respeito é um privilégio. Quando pensamos o vestir dessa maneira, ele deixa de ter um aspecto meramente funcional e passa a se constituir como algo relacionado ao seu desenvolvimento e realização pessoais. Lembram da pirâmide de Maslow? Pois é! Pra gente poder satisfazer esse tipo de necessidade, tem que, antes, ter conseguido satisfazer outras mais básicas.

Quem tem que se preocupar com o que (ou se) vai comer, onde vai dormir, não vai se preocupar com o que vai vestir – pelo menos não para além do aspecto funcional, de proteção e abrigo.

No entanto, não se preocupar com o vestir também é um privilégio!

Primeiro porque a gente só abre mão do consumo (ainda que o vestir não esteja só atrelado ao consumo, no meu entendimento) quando a gente já experimentou e cansou dele! Se engana quem acha que é só gente rica que se preocupa com a própria roupa – não sei se vocês sabem, mas o tema da minha dissertação de mestrado foi, justamente, consumo de moda popular!

Segundo porque a maneira como você se veste garante o acesso a determinados lugares. (Sobre isso, recomendo demais essa matéria da BBC: O desabafo dos jovens negros sobre a questão da roupa que estão vestindo: ‘Não é questão de vaidade’)

Quem já tem, sempre teve esse acesso (nós, brancos, de classe média, privilegiados), nem se dá conta disso. Mas poder dizer que “não liga pro que está vestindo” significa dizer que esse acesso lhe é garantido.

No fim das contas, é um luxo poder vestir “qualquer coisa”.

O tempo passa, mas de uma maneira ou de outra, o vestir continua exercendo papéis muito além do cobrir o corpo. O vestir funciona como pertencimento, como diferenciação, como autorrealização. E, sim, muitas vezes e de maneiras bem perversas, como marcador social!

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